Labrospettro
O contrato com a Transeuropa Edizioni está assinado — pouparei vocês da habitual foto ritualística de autor, pois assinei em uma casa quase vazia, na antiga e empoeirada escrivaninha do meu pai que, ao que parece, ninguém quer. Talvez isso até beneficie o romantismo da foto, mas na verdade é o pó sobre a escrivaninha que constitui o verdadeiro contrato. O pai tornou-se pó, ninguém quer sua escrivaninha, nem mesmo de graça. O filho assina nela um novo começo ao longe.
A editora fica em Massa. É uma editora bastante elegante e renomada, que já lançou livros de nomes sonoros como Jean-Luc Nancy (filósofo francês, conhecido por The Inoperative Community), Srečko Kosovel (poeta esloveno de vanguarda), Alain Badiou, Giorgio Agamben, Erri De Luca e Viktor Shklovsky (formalista russo, Theory of Prose). Sinto-me obviamente honrado em estar cercado por tão ilustre companhia.
Há ainda o curioso fato de que o logotipo da editora é idêntico ao da Fábrica de Canela — não foi esse o motivo que me levou a escolher essa editora, pois só notei isso depois. Enviei Labrospettro a três editoras italianas.
*
Um poema do poeta turco Edip Cansever, traduzido por mim:
Incêndio
Edip Cansever
Traduzido do turco
Cuidado ao sair de casa!
Evite flores, não as cheire —
melhor ainda: cubra o rosto com o chapéu.
Não pense em nada, eu também não penso —
por quê, você pergunta? Porque as flores
fazem o amor se desgastar nos humanos.
Transformam um homem em sol,
os presuntos lançados sobre a mesa.
Muito estranho! Tenho até ciúmes
de um ovo em sua frigideira…
Se você me ama: cuidado!
Pergunte ao vidraceiro da esquina,
o que ele diz é verdade, não zombe dele.
Aliás: amar-me
torna o arroz cozido mais branco.
Bom dia!
Amar-me é como a manhã,
as cores de um galo.
Você me ama? Então seus dedos estão em chamas.
Não vê que estou olhando? Cuidado!
Dou chocolate aos trens.
Sempre faço isso — brincar com a razão, quero dizer.
Há trens que mimam você.
Acomodo-me junto à janela — que delícia.
E assim continuo, você há de conhecer meu nome:
o homem de muitos países.
Antes mesmo que os trens ouçam o sinal de partida.
Quando saio à rua, cuidado! É isso mesmo.
Talvez exista uma lei:
ou bebi água,
ou lavei meu rosto,
ou fiquei muito tempo olhando para baldes d’água.
Por que isso não seria possível?
Por que eu não olharia para os mares?
Meu lado mais esperto é pescar peixes com o próprio mar.
*
Agora, de volta às minhas traduções para o italiano. Saudações,
Martinus Benders