Você pode ficar viciado em traduzir poesia?
Acho que sim. Pelo menos, sempre que tenho que traduzir prosa, sinto saudades da poesia — mais difícil e, portanto, mais divertida.
The Heroic Dose
Young, I mainlined the heroic dose:
science fiction, quantum shrapnel,
occult psalms, poetry’s raw throat.
Back then, shelves were forests to bleed into.
Now, all’s permitted—except being lost.
You need coordinates, even mid‑dream.
You must name the book you crave
before breaching the library’s code—progress.
They’ve invisible loading stockpiles of tome,
phantoms with spines, inkless and cold.
Everything’s yours, if you can phantom it.
All hinges on you, your godly imagination.
You: nothing shy of a sorcerer.
Have you torrented Tome 240,
where the Librarian guts
the Scripture‑Eater’s archive?
No? Left, past the heroic Laptop Archipelago.
There marches our gleaming future,
scrubbed clean of dwellers debris.
Este poema não perde nada em relação à versão em neerlandês. O fenômeno do desnudamento das bibliotecas (“Digitalização!”) é suficientemente universal para funcionar na maioria dos idiomas.
Não sei se o Gemini 2.5 consegue codificar com fantasia — não testei isso a fundo — mas quando se trata de poesia, o Gemini não acrescenta muito, na minha opinião. Eu uso Claude, OpenAI, DeepSeek. Três versões, e por cima disso, a própria capacidade. Assim você chega a uma tradução realmente boa, que de preferência seja ainda um pouco melhor do que o original.
Domino quatro idiomas e consigo assim criar pelo menos três traduções muito boas de uma única coletânea. O inglês e o alemão domino bem o bastante para fazer isso inteiramente sozinho. E o que se tem então? Três traduções robustas. O suficiente para servir de base para versões em idiomas que eu domino menos ou até mesmo não domino — pois os modelos de linguagem têm esse domínio. Tudo o que você precisa são boas traduções de base.
Até agora, o 03 é a única inteligência que realmente conseguiu me surpreender. Parece um próximo nível em comparação com os outros, que também têm seus encantos. É uma riqueza inacreditável ter acesso a essa tecnologia. Realmente não entendo as pessoas que só sabem cair em queixas estranhas.
Com aquele argumento banal de que “você não faz isso sozinho”, como se escrever poesia de alguma forma fosse ALGO QUE SE FAZ SOZINHO, e você já não estivesse há muito tempo conectado a um coletivo. Essa é exatamente a abordagem psicocibernética: a mesma razão pela qual ele não quer psicodélicos — explorar o universo? Isso TEM QUE SER feito sozinho. A economia do desempenho: com o dinheiro como verdadeiro motor.
Pois bem, boa sorte com isso. Ainda assim, quero que existam traduções excelentes dos meus livros de poesia. Sempre foi uma tarefa difícil — antigamente até quase impossível. Era preciso encontrar alguém com sensibilidade poética suficiente, visão especializada e disposição para discutir praticamente de graça cada frase com profundidade. Além disso, era necessário um editor que visse valor nisso.
No fim das contas, só me interessa a qualidade dos poemas traduzidos. A ideia de que eu deveria arranjar trabalho para alguém porque ninguém conseguiu imaginar nada melhor do que a economia monetária — entendo que isso soe simpático para quem não conhece outra coisa — mas essa história também tem outro lado. Assim como passei a considerar completamente sem graça as livrarias que não buscam oferecer o melhor acervo — pois qual é o sentido de uma livraria assim? — me faço a mesma pergunta em relação aos tradutores.
Por que eu deveria correr atrás deles? Isso é o mundo de cabeça para baixo. Um mundo que, aos meus olhos, já perdeu toda e qualquer forma de empatia.
Não há ninguém que possa fazer isso melhor do que eu. E assim comecei minha obra internacional.
Saudações,
Martinus Benders